Morta
flutua no chão.
Galinha.
Não teve o mar nem
quis, nem compreendeu
aquele ciscar quase feroz. Cis-
cava. Olhava o muro,
aceitava-o, negro e absurdo.
Nada perdeu. O quintal
não tinha
qualquer beleza.
Agora
as penas são só o que o vento
roça, leves.
Apagou-se-lhe
toda a cintilação, o medo.
Morta. Evola-se do olho seco
o sono. Ela dorme.
Onde? onde?
Poesias
Ferreira Gullar
segunda-feira, 27 de maio de 2013
domingo, 26 de maio de 2013
Ano novo
Meia-noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olha o céu:
nenhum indício.
Olha o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via-Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça
nada ali indica
que um ano novo começa.
E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.
Começa como a esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta).
(De Barulhos).
Não coisa
Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,
a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
-essa voz somos nós.
Assinar:
Postagens (Atom)